Tabla Solo... O Fogo, O Romance.
Quando pensamos em Dança Oriental a primeira imagem que nos vem à cabeça é de uma bailarina que se transcende ao som de uma Darbuka. Sem dúvida alguma que a bailarina e a derbake estão intrinsecamente ligadas entre si e em conexão formam, no meu entender, o ex-líbris da Dança Oriental.
Este post será dedicado à ligação existente entre o percussionista e a bailarina, logo por consequência à tabla Egípcia e ao corpo que dança. É sobretudo uma reflexão pessoal sobre a semana de ensaios que antecederam ao espectáculo do dia 26 de Junho.
Para além de ter sido uma semana exaustiva, em que tive que ensaiar o meu solo, ajudar a Teresa a preparar os dela, a dar as suas aulas (pois a Teresa esteve doente), a organizar alguns detalhes para o espectáculo, etc. foi sobretudo uma semana surpreendente. Como referi a Tété esteve doente durante a semana de ensaios mas como sabem no mundo do espectáculo não há quem possa parar o ShowBusiness … “The Show must go one”!!! Por isso os ensaios sobre o solo de percussão, que a Teresa iria apresentar juntamente com o Sérgio, foram feitos por mim e pelo próprio Sérgio. Resultado: Uma MARAVILHOSA aula particular sobre precursão com direito a percussionista e bailarina, só para ensinarem única e exclusivamente a minha pessoa (bem, já estou a ficar convencida!) TCHARAAAAAANNN!!!
Uma outra questão que advém do que anteriormente foi explicado é como é que se relacionam e interagem estes diversos aspectos de forma a resultar numa estrutura coerente, perceptível pelo público, mesmo que seja improvisada? Bem o nosso querido Hossam Ramzy diz que a dança é uma reprodução em 3d do que acontece musicalmente e eu não podia estar mais de acordo. Para fazer algo de improviso seja cantar, dançar ou representar temos, em primeiro lugar, que conhecer e dominar a técnica da arte abraçada. Não é necessário sermos prefeitos pois ninguém o é, apesar de o exigir a mim mesma, e até morrermos estamos sempre a aprender. O que quero dizer é que não se deve começar a construir a casa pelo telhado. Na Dança Oriental assim acontece também. Tanto a bailarina como o percussionista têm de dominar a sua arte e conhecer a do parceiro. A bailarina não pode dançar sem reconhecer, nem que seja só de ouvido, os ritmos que está a ouvir (o que para mim ainda é pouco apesar de ser o mais importante e essencial para quem dança). Em relação ao percussionista esta situação repete-se pois quem toca ritmos árabes, direccionando o seu trabalho para a área da dança, sabe que não o pode fazer sem conhecer visualmente os movimentos da bailarina. Este é o primeiro passo para que um improviso seja bem sucedido. Assim caso haja alguma falha de uma das partes a outra pode sempre apoiar o parceiro sem que toda a estrutura do solo se desmanche ou ainda que algum incidente aconteça estarão por si só em plena capacidade de o resolver. Ambos apoiam-se mutuamente.
A partir daqui tanto a bailarina como o percussionista irão jogar e conjugar estes diversos momentos, algo que pode ser combinado à priori. Fazem-no através de um código corporal e auditivo que pode não ser compreensível para quem está a ver e mesmo entre si pode dar-se a situação de ainda não se conhecer os respectivos códigos mas uma coisa é certa é que toda esta linguagem é percepcionada por ambas as partes. A dança e a música é algo que mexe com os sentidos e se a bailarina ouvir muita música árabe e se o percussionista vir muitas bailarinas a dançar tudo isto ficará registado nos seus cérebros, na sua memória auditiva e corporal, recordando e identificando-os mais tarde através de uma química existente entre o instrumento e o corpo dançante. Por este motivo, a química, muitos percussionistas e bailarinas optam pela exclusividade no que diz respeito à escolha do parceiro com quem actuam pois não existe ninguém que reconheça esses mesmos códigos tão bem como o nosso parceiro. Estes, como disse anteriormente, nem sempre são visíveis para quem vê pois podem ser discretos mas algo deve passar para o público: a química existente entre a bailarina e o percussionista tornando uno o som do instrumento com o movimento do corpo dançante. No meu entender toda a bailarina deve ter a capacidade de se enquadrar com diversos músicos e situações pois este luxo de termos um percussionista só para nós nem sempre é possível mas compreendo que existam os predilectos do nosso coração e com quem gostamos mais de trabalhar.
Como disse anteriormente a química existente entre quem toca e quem dança é muito importante para que o público se sinta envolvido e perceba realmente o que está acontecer em palco. É igualmente importante para o músico e para a dançarina que sejam conscientes um do outro para que todo o mecanismo, estrutura e sobretudo MAGIA inerentes a um solo de percussão possam acontecer em pleno desde os momentos que o contemplam, até à comunicação existente entre bailarina e percussionista, até ao resultado em 3d (e num todo!) e por fim até ao objectivo final que é a comunicação entre artistas, palco e público.
Para finalizar quero apenas referir que tal como Hossam Ramzy referiu num dos seus ensaios sobre a Dança Oriental, o precurcionista é o time kepper, ou seja, o guardador do tempo. É ele quem determina e demonstra tanto à bailarina como á orquestra e ao público quando começam e acabam os diferentes momentos musicais. Por este motivo é ele que quem vai à frente na batuta... como se costuma dizer no Brasil.
Reconheço que, ao analisar o ensaio com o Sérgio alguns destes aspectos estiveram em falha. No entanto devo frisar que tanto para mim como para o Sérgio foi uma experiência quase nova (digo quase pois o Sérgio já actuou com outras bailarinas) sobretudo porque ambos, não conhecendo o trabalho um do outro e sem definir nada à priori, nos deixámos levar pelo amor que temos pela música e pela Dança Oriental. E sem isto nada feito meninas, por isso afirmo "Tabla Solo... O Fogo, O Romance” pois tal como nos romances tem de haver química senão a magia não acontece.
Muitas danças,
Maria*
Maria*
3 comentários:
Olá Maria!
Tópico interessante! Sem dúvida que um solo de percussão é um desafio,tanto para a bailarina como para o percussionista.
Eu nunca fiz um solo de tabla com percussão ao vivo, mas imagino que deve dar um grande gozo! :)
Na minha opinião, uma componente que falta na maioria das aulas de dança oriental é precisamente o estudo dos ritmos. Pode até ser uma coisa aborrecida de aprender, mas é essencial para se ser uma boa bailarina.
Podemos optar por ter aulas de ritmos e percussão árabe, mas pelo que conheço ainda não há muita gente habilitada para dar formação nesta área.
Ou então "fazer o trabalho de casa", ou seja, ser autodidacta, que foi o que eu resolvi fazer! eheh uma pessoa faz o que pode ;)
Beijinhos e boas danças
ps: era suposto este post ter um vídeo? :p
Querida Cat,
Muito Obrigada pelo teu comentário. Sim tens razão este post deveria ter um vídeo que ainda não consegui postar pois é muito pesado... ainda! Aliás o blog anda muito paradinho pois tenho a intenção de o modificar e como ainda está a meio gás não faço grande publicidade. É bom saber que apesar disso já tenho mais seguidores e que os comentários acabam sempre por surgir.
Sem dúvida que um solo de percussão é um desafio. Acho que a palavra certa é FERNESIM, se a bailarina não o tiver passa a ser só técnica ou então uma grande seca;) Concordo contigo no que diz respeito à falta da componente rítmica nas aulas de dança. O problema é que muitas das professoras por muito boas que sejam não querem dividir o que ganham com um percussionista e muito menos as academias querem pagar a dobrar até porque isso iria se reflectir nos bolsos das alunas. Por outro lado as aulas são compostas por um público misto ou seja grande parte das alunas procuram a Dança Oriental apenas pela sua componente terapêutica e a outra ínfima parte, a de quem quer realmente aprender com intuito de se dedicar profissionalmente, acaba sendo indirectamente prejudicada. Quer dizer ambas as partes o são pois uma não tem de interferir com a outra. Seria bom que as turmas fossem distintas mas às vezes não existem alunas suficientes e acaba por não compensar monetariamente; além do mais isto é algo que não se define à priori mas sim só depois de se experimentar e conhecer a Dança Oriental e a professora conhecer as suas alunas. Contudo a maior parte dos percussionistas não estão habilitados a dar aulas em conjunto pois ou não direccionam a sua arte à dança, apenas à musica, ou então só dão aulas a quem quer ser percussionista. Ora uma bailarina não tem de saber tocar derbake apenas deve conhecer os diversos ritmos e os estilos em que se enquadram.
Outro aspecto muito importante é a forma como as professoras estruturam as suas aulas. Sei que não tenho nenhum diploma nem certificado que garanta uma qualidade supervisionada e aprovada do meu trabalho e que isso é essencial para quem quer leccionar hoje em dia mas acredito que ele terá qualidade pois é nisso em que eu aposto todos os dias tendo sempre em conta cuidar da saúde e do físico de quem vem ter até mim e que em mim o confia. A consciência do corpo do aluno como um templo sagrado é a grande responsabilidade e o juramento de Hipócrates de uma professora de dança.
Tal como tu tenho sido autodidacta aliás neste último ano tem sido assim pois a minha professora do nível avançado esteve de baixa de parto. Como existem poucas a dar este nível com qualidade optei por esperar. Acredita que evolui imenso sobretudo com o apoio da minha outra professora e fi-lo através de coreografias. Nada é melhor para evoluirmos do que perdermos o medo e deitarmos mãos à obra, sempre com a humildade e o reconhecimento que iremos necessitar do apoio das nossas professoras tal como um bebé necessita da sua mãe para dar os seus primeiros passos. Em relação às minhas aulas espero retomá-las agora em Setembro.
Por hoje é tudo.
Beijinho grande,
Maria*
Bem e é Frenesim e não fernesim:)))
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