Mariam Mendonça

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Sobre o Blog

Este blog tem como objectivo principal a divulgação do meu percurso pela Dança Oriental tal como toda a sua cultura inerente. Visa também ser um ponto de encontro para todos os amantes desta dança. Aqui podem encontrar documentos de investigação, páginas sobre eventos, receitas Árabes, etc.

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Ventre e seus mitos: aumento abdominal e o homem na dança

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ventre e seus mitos: aumento abdominal e o homem na dança

No passado dia 27 de Maio tive a minha última aula de voz deste ano lectivo. Para matar a curiosidade a minha professora, Mariana Norton, pediu-me que dançasse um pouco para que pudesse ver o que era a Dança Oriental. Como uma colega minha também é bailarina, de Dança Clássica e Contemporânea, a conversa acabou por se desenvolver graças ao seu interesse.
Desta conversa duas questões se destacaram. A primeira debruça-se sobre o mito de que a Dança Oriental pode provocar o aumento da zona abdominal. A segunda pergunta surge como uma duvida intermitente: Será a Dança oriental realizada apenas de mulheres para mulheres ou existe somente com o intuito de entreter e seduzir a classe masculina?
Como resposta à primeira pergunta afirmo desde já que a Raqs al Sharqi não contribui de modo algum para o aumento da zona pélvico-abdominal.
Ora vejamos; A Dança Oriental tem raízes muito fortes ligadas às religiões pagãs e ás culturas nómadas que surgiram por todo o crescente fértil. Destas destaco as que se edificaram ao longo do Rio Nilo e as que viviam no Deserto do Sahaara. Umas das principais características da cultura pagã é o culto à Deusa mãe, deidade que personaliza a fertilidade da mulher. Muitos dos rituais realizados em honra desta Deusa incluíam uma forma primitiva e bastante espiritualizada daquilo que hoje em dia é reconhecido como dança. Durante estes rituais era comum o uso de movimentos pélvicos e abdominais, os quais aludiam à fertilidade da mulher, da Terra e da Deusa. Esta deidade feminina é reconhecida como Deusa Terra-Mãe, Deusa Mãe ou ainda a Grande Mãe. Os movimentos preconizados durante estas cerimonias religiosas eram intencionalmente executados com o intuito de preparar a mulher para o parto, tornando-a mais fértil sob a protecção da Deusa Mãe. Por outro lado representavam o parto em si.
Mesmo hoje em dia ainda existem alguns povos, tribos do interior do Marrocos , cujo suas mulheres realizam ritos de fertilidade especialmente durante o parto. Segundo a pesquisadora norte-americana Morroco, as ondulações abdominais consistem na imitação das contrações do parto. Neste momento as mulheres fazem uma roda em volta da parturiente executando um conjunto de movimentos que resultam num complexo trabalho pélvico. Servindo de inspiração e de ajuda, estes movimentos devem ser executados no momento em que a puérpera dá à luz, enquanto a futura mãe fica de pé, realizando também os movimentos das ondulações com a coluna. Estas mulheres são assim preparadas para o parto desde pequenas, através de danças muito semelhantes à Dança do Ventre.
Como pudemos observar a Dança Oriental é naturalmente concebida para o corpo da mulher. Anatomicamente o que distingue uma mulher de um homem são os seus caracteres sexuais secundários, nomeadamente o desenvolvimento do peito e da bacia.
Nas danças do ocidente, em especial no Ballet, é exigido ao corpo feminino que se apresente dentro de certas medidas. Regra geral as bailarinas clássicas não têm o peito, a cintura e o ventre muito desenvolvidos pois os exercícios executados não o permitem. As suas pernas, os seus braços, a sua cintura e o seu peito têm de se inserir num conjunto de medidas pré-definidas. Muitos dos exercícios de Ballet clássico contribuem para que o corpo da bailarina, principalmente se dançar desde criança, se desenvolva dentro destes parâmetros.
Em contra partida a Dança Oriental privilegia as formas femininas pois todo o trabalho executado concentra-se na zona da bacia, no músculo pubococcígeo, na zona abdominal e peitoral. Desta forma enaltece o corpo da mulher contribuindo para que se torne mais curvilíneo, tonificando-o e promovendo o seu desenvolvimento de uma forma natural, especialmente da zona da cintura, do peito e por vezes da pélvis (a tão conhecida barriguinha de Vénus).
No entanto isto não significa que uma bailarina de Dança Oriental tenha que ser voluptuosa, com um colo generoso ou anca larga. Cada corpo é um corpo e o (não/muito/pouco) desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários varia de mulher para mulher. O facto de se começar a dançar muito nova, em especial a partir da puberdade (mais ou menos 14 anos), contribui para que esta situação possa acontecer com uma maior probabilidade.
Gostaria de salientar que ter uma barriguinha de Vénus não quer dizer que uma pessoa seja gorda. Antes pelo contrario esta faz parte da anatomia natural da mulher. Ter uma barriga de Vénus é ter um ventre em forma de gota por isso não implica que se tenha um estômago dilatado ou então o famoso e ilustre “pneu”.
Todos estes preconceitos são alimentados por uma imagem pré-concebida da mulher e da bailarina oriental.
A Raqs al Sharqi promove as formas femininas e não faz crescer seios ou ancas de forma despropositada e muito menos onde eles não existem!!!
Tendo esclarecido esta questão, e espero que bem, irei prosseguir com a próxima pergunta. Será a Raqs al Sharqi uma dança realizada apenas de mulher para mulher ou existe para entreter e seduzir os homens? Podem os homens dançar?
Como puderam observar Historicamente, e em certa parte, a Dança Oriental foi concebida e direccionada para a mulher. Mas isto é apenas uma meia verdade pois não comtempla a História, a importancia e o papel do homem enquanto bailarino.
Por outro lado devo frisar que a Dança Oriental não teve origem num só lugar ou a uma determinada altura. Existem diferentes tipos de dança - folclóricos , clássicos ciganos, etc. que acabaram por acontecer devido a inúmeras situações. Esta que acabo de referir na primeira questão deste post, é apenas mais um dado Histórico deste grande enredo e que esclarece a razão pela qual muitas vezes se diz que a Dança Oriental é apenas e exclusivamente feminina, claro está acrescentando e contribuindo com toda a questão anatómica de que anteriormente falei.
Retomando o percurso pelo qual trilhávamos, refiro que para os Árabes a Dança Oriental é apenas um evento/manifestação cultural. A sensualidade que achamos estar inerente a si é consequência de uma má leitura, onde predominam os retratos Ocidentalizados e de visão vitoriana, romântica e católica, os quais nos impedem, e impediram durante muitos anos, de sermos coerentes no que diz respeito a imparcialidade Histórica.
Da mesma forma que no Ocidente a dança é uma forma de arte ou uma forma de sedução assim também o é no Oriente... e nem por isso ouvimos dizer que o Vira Minhoto, por exemplo, é uma excelente forma sedução!!!
Simultaneamente à situação supra mencionada, e explicando de uma forma linear e prosaica, existiam em ambiências diferentes dois tipos de bailarinas: as Ghawazees (ciganas) que actuavam nas ruas da cidade e que viajavam de país em país numa espécie de espectáculo itinerante; e as Almehs (cortesãs) que se apresentavam nas cortes declarando poesia, tocando musica e dançando. As Ghawazees deram origem às Danças Ciganas; as Almehs à Dança Clássica Egípcia (hoje muito influenciada pelo Ballet Clássico Russo); e as mulheres que do seu seio familiar saíram trouxeram para as ruas o estilo Baladi ou Beledi (que significa natural/nativo de um país/região). Este último estilo de dança é o mais popular (entenda-se mais próximo ao povo) por todo o Egipto e se hoje em dia entrarmos numa casa particular podemos ainda assistir, juntamente com toda a família, a uma dança executada de uma forma informal e desprovida de técnica, aproximando-se assim da sua essência.
Actualmente existem muitos homens que são excelentes bailarinos e professores de Dança Oriental. Contudo esta situação não é novidade! Se estudarmos a formação das primeiras civilizações, passando pela História do Islão, pelo redescobrimento Ocidental das culturas Orientais, sobretudo apartir do século XIX com o Orientalismo, e terminando na actualidade, iremos constatar que a presença masculina na Raks Sharki tem sido uma constante que infelizmente é muito desprezada. Geralmente falamos na castração que o sexo feminino tem sofrido ao longo de décadas e através de certas culturas, e em particular na cultura Mulçumana, mas esquecemo-nos de observar o outro lado da questão! SIM OS HOMENS TAMBÉM DANÇAM!!! E NÃO É SÓ A DANÇA ORIENTAL... ELES VÃO ÁS DISCOTECAS, FAZEM BALLET, DANÇAS DE SALÃO, ETC. E POR AMOR DA SANTA NÃO DIGAM QUE SÃO HOMOSEXUAIS/EUNUCOS/TRAVÉSTIS PORQUE ISSO É PRECONCEITO!!!
Para finalizar gostaria de fazer um pequeno apontamento ao facto de existirem diversas danças masculinas por todo o Médio-Oriente, tais como a Dabke, o Tahtib, a Tanoora muitas das quais inspiraram bailarinas e mulheres a desenvolver a sua dança e a sua performance ou apenas por ser uma forma de emancipação feminina no mundo árabe. Exemplo disto é o Tahtib.
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Boas danças,
Maria*
P.S - Como complemento a este post sugiro que leiam a entrevista "Dança do ventre: tabus e verdades por Joana Saahirah" postada aqui neste blog. Nela poderão compreender melhor o papel do homem na Dança Oriental, que de todo não lhe é alheio!

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